Por sugestão de uma amiga interessada em reunir o grupo e incentivar a leitura, criamos de forma bastante informal, um CLUBE DE LEITURA que está em plena atividade e já debate (outubro de 2011) seu quarto livro. Nossos encontros são mensais e  recheados de muitas discussões. Como não somos experts, muito menos críticos literários, debatemos os sentimentos que os livros nos proporcionam, o que tem se mostrado muito rico do ponto de vista do crescimento individual e da convivência coletiva fraterna.
         A criação deste Blog é para que registremos a trajetória do Clube. O nome TOSCANA, surge para homenagear  aquela região italiana que, após  uma viagem que fizemos ( entre 11 casais)  para visitá-la, em abril de 2011, ela ficou indelevelmente marcada nos nossos corações. Como a criação do CLUBE DE LEITURA,  decorreu da parceria desenvolvida naquela viagem, a continuidade  do convívio daquele grupo (hoje ampliado), também justifica a homenagem.
         Este  Blog, que é restrito às participantes do CLUBE DE LEITURA TOSCANA, poderá conter  toda espécie de comentários, sugestões e propostas referentes a livros (lidos ou não), filmes, músicas,  peças teatrais e/ou shows , sobre os quais queiramos compartir impressões.
Bem vindas amigas!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ATA DA REUNIÃO DE DEZEMBRO 2013 - A Paixão Segundo GH - Clarisse Lispector






Parte 1

Quando cheguei em casa, senti o quanto aqueles momentos tinham sido preciosos. As risadas e comentários ecoavam na minha memória, revia cenas impagáveis de amizade, carinhos, beijos, olhares de cumplicidade. Pensei em como havíamos temido a tal barata, para que ela, finalmente, se revelasse a figura que nós mesmos nos tornamos para sobreviver ao mundo. Mas o mundo fora do nosso clube. Dentro dele, tenho certeza, não temos camadas, nem cascas. Somos quem somos e conseguimos , cada vez mais, ser quem nem sabíamos que éramos.

Era nossa reunião de final de ano, na casa da Karen. A confortável sala de estar, toda decorada para o Natal nos acolheu e foi irresistível a vontade de me deitar na chaise long ao lado da Arletinha, logo que cheguei. Nossa anfitriã preparou tudo nos mínimos detalhes, a começar pela MARIA, espumante oficial da casa Teixeira, bem gelada! Tivemos a presença especial de Hilda Simões Lopes, professora, especialista em Clarice Lispector, convidada por nossa Presidente, a fim de esclarecer dúvidas e otimizar a compreensão da obra e sua autora. Hilda, se revelou uma igual. Se integrou perfeitamente ao grupo e seus apartes foram determinantes.

Só faltou a Malu, na África, para estarmos todas. Mas quem veio, veio, e não deixou de estampar sua impressão sobre a difícil leitura da “A Paixão Segundo GH”.  Suzana, desde o início, achou que deveríamos ler e ser desafiadas por Clarice. Ela questionou nossa professora sobre as constantes citações de Deus e do inferno. Hilda decodificou dizendo ser o julgamento superficial do outro, o inferno, enquanto Deus se manifesta quando a autora consegue se libertar e atingir a própria essência, a paz... Cléo vibrava, inspirada pela espiritualidade de Clarice, evocou Júpiter e o zodíaco. Leu a página 30 e concluiu: “ ...basta o olhar de um homem experimentado...” Com o apoio de Denise, nossa fashionista também ressaltou a passagem das iniciais gravadas: “ É suficiente ver no couro de minhas valises as iniciais G.H., e eis- me.”

Eu, Lise e Evy, assumimos não ter amado a leitura e que ela foi muito difícil pra nos.  A professora nos orientou a começar por “Laços de Família”, uma obra que nos prepararia melhor para entender Clarice. Segundo Hilda, a própria escritora confessou a Rose Marie Muraro, que havia escrito seu melhor livro, mas que poucas pessoas iriam entende-lo. Karen leu, sem problemas e adorou. Titina, na sua discrição habitual, comentou pouco, mas gostou. Karin se divertiu fazendo comentários e demonstrando conhecimento de causa.

Lídia que havia dado início a reunião, apresentando o funcionamento do clube à nossa visitante, citou a página 10 onde a narradora, indo adiante em suas “ visões fragmentáveis” analisa como nos apoiamos em fatos, coisas e pessoas para nos sustentar e ir em frente, concluindo “…com duas pernas posso caminhar, mas a falta da terceira perna, me assusta.” Nossa presidente também salientou um outro aspecto interessante do livro que trata da deseroização de si mesmo, a capacidade de assumir fracassos, até mesmo de uma vida inteira: “a dor faz parte de nós”.

Hilda nos contou a triste história da vida de Clarice Lispector. Mas, mais importante, decodificou para o grupo, esta mulher à frente do seu tempo, que clamava para que o ser humano fosse aquilo que realmente é. Yunguiana, Clarice pregava que para nos libertar do que nos perturba, temos que olhar o incômodo de frente e engoli-lo. Para ela, lá na essência do nosso eu, o elã vital, temos a mesma chama, o problema são as camadas que nos são postas. -“E por não ser, agora sou, então me adoro. Eu sou o que sou. A perda de tudo que se pode perder e, ainda assim, ser.

Parte 2

Depois de entender boa parte das metáforas de Clarice Lispector, fomos convidadas à mesa de jantar. Eu, nem precisaria, pois me sentia gorda, inchada de tanta cultura. E digo com sinceridade, ainda que com humor.
A sensação era de ter colocado pra dentro de mim coisas que ainda não havia metabolizado antes, que havia aprendido…Muito legal! Mas a Karen tinha preparado um camarão delicioso, e nós estávamos ali também para confraternizar, então, vamos em frente!

Agraciamos nossa querida convidada com uma orquídea branca, e uma caixinha de códigos… Em sintonia com Clarice, como estávamos naquele momento, foi fácil entendê-los e a tradução foi praticamente simultânea. Os temperos da vida(manjericão e alecrim); Paixão (flor vermelha); proteção (pimentinha) e amizade (flor amarela), tudo isso nas gavetinhas de um porta jóias feito a mão, que somos nós na nossa singularidade. Mas isso é meio complicado, só vendo pra entender…
Hilda adorou, assim como acho que gostou muito de estar conosco. A recíproca foi totalmente verdadeira. Tê-la ali, com sua simpatia, desprendimento e conhecimento, trouxe brilho a nossa noite e fez da nossa reunião uma verdadeira aula gostosa, inesquecível!


Parte 3

Como na tradição, reunião de Natal é ocasião do nosso Amigo Secreto Literário. A Presidente fez os papeizinhos, tentando colocar seu nome mais de uma vez… ainda bem que eu estava atenta… Cleozinha, que estava bem ouriçada com a Lispector ação, quis começar! Imaginem porque? Teve a honra de presentear a Lidia com “A Vida Como Ela É”, Nelson Rodrigues. A Presy tirou a doce Lisinha, que definiu como amiga pra todas as horas, o livro era “Nu, de Botas”, de Antonio Prata. Lise anunciou Evelyn, a implacável assessora cibernética, como sua amiga secreta e deu a ela “As Avós” de Doris Lessing. Vejam que barbada… Evy pescou a Titina com “Felicidade Demais”, Alice Munro. Como esta dupla tem realmente muito em comum, Titina também escolheu um Alice Munro original para sua amiga Karin, “O Amor de Uma Boa Mulher”. Mas daí a coisa ficou demais… Karinzita triplica Alice Munro e vai com “Felicidade Demais” para Cléo.

Denise toma a palavra e começa a falar da sua amiga secreta… Uma mulher maravilhosa, cheia de qualidades e a qual ela ADORA!!!! Adivinhem quem? EU. Sim, eu mesma, tive a honra de receber da nossa pequena notável, “Catarina, a Grande”, amei! Bem, passada a emoção e o abraço apertado, revelei que no meu papelzinho, estava o nome daquela a quem a sinceridade não falta, e que, com um coração enorme, nos acolheu - a querida Karen. Para ela “Antologia a Literatura Fantástica”, coletânea de contos de diversos autores deste estilo. Karen teve a sorte de presentear Arlete, que aos poucos está reflorescendo como as orquídeas que tanto ama, com “ Vozes Anoitecidas” de Mia Couto. Arletinha disse que estava meio sem cabeça pra escolher realmente uma obra, então deu a Suzana o que de mais belo encontrou, um livro de fotos de Paris, cidade que ela adora. Suzana, dotada de especial graça, homenageou sua grande descoberta deste ano, a parceira de viagem Denise, com “O Professor do Desejo”, de Phillip Roth. As duas perambularam sapecamente pelo mundo, levando os livros do clube por onde passaram.

Parte 4

Para fechar, com chave de ouro, deveríamos escolher o livro do ano! Tchan, tchan, tchan, tchan….Votado e ovacionado o melhor do ano para o Clube de Leitura Toscana- The winner is : O Silêncio das Montanhas de Khaled Housseini.

Gurias queridas, em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas pela demora em publicar a ata, mas tenham certeza que existiram motivos pra isto. Em seguida gostaria de agradecer, do fundo do meu coração a cada uma de vocês pelo carinho, pelo incentivo, pela confiança, enfim, pela amizade que tem sido de valor inestimável pra mim. Como já declarei outras vezes, o Clube é das maiores fontes de alegria e portanto de energia que tenho hoje. Que isso continue pra sempre!

Desejo a todas um Natal cheio de felicidade, junto de quem vocês amam. E que no próximo ano a gente consiga estar muito juntas, trocando experiências, impressões e sentimentos. Repetindo: Amo vocês!

Bj
Andrea

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Zero Hora 12/11/2013 - Publicação de nossa Redatora Chefe


Reunião de 24/10/2013 - Doce Gabito







Nos encontramos na casa da Malu, recém chegada de viagem, como é normal... Fotos da nossa artista se alternam na tela Led enquanto aguardávamos a chegada de todas as amigas. Neste meio tempo, testamos o contato com Denise e Suzana, ineditamente participando da reunião por skype.  Arlete estava presa no trânsito e Titina, pasmem, na Emergência do Moinhos- marido com cólica renal, assim ela atestou... A pequena demora das colegas faltantes não abalou nosso ritmo e assim que chegaram começamos a reunião.

Lídia iniciou as falas elogiando este "escritor maravilhoso" que, mais uma vez exaltando o tema da família , como em Arroz de Palma, nos mostrou que sempre existe o lado bom "e isto faz bem pra gente". Ressaltou que o prostíbulo, onde viveu a protagonista, não foi julgado, o que também chamou a atenção da Evelyn, que disse: - Adoro o jeito que ele escreve!!! Evy, que junto com a Malu, estava enlouquecendo na tentativa do contato via skype, ainda expôs sua conclusão de que Gabito era o anjo da guarda de Gabriela.  Eu, não me ative muito a estas questões e concentrei meu comentário em:- como fazia um homem a retratar, e contar tão bem o universo feminino e sua sensibilidade sensorial?

Cléo, achava que Francisco Azevedo era libriano, mas Arletinha logo pesquisou e apurou que era do signo de peixes. De qualquer modo, segundo nossa it girl : -" o livro é uma poesia". O fato de  Gabriela conseguir sobreviver a tudo, se devia a sua capacidade de ver o mundo com poesia, de ver o terceiro lado...Cleozinha ainda registrou sua apreciação do momento em que José Aureliano desfez a  trança da protagonista, disse :-"muito melhor que 50 tons!"  Lise entra em ação ressaltando novamente a sensibilidade de Gabriela, por vezes parecia ficção e depois voltava a realidade, "ela sonhava muito..." Adorou as descrições do Rio de Janeiro, os lugares, as músicas... Tudo é inspiração , disse Lisinha, ao lembrar que nosso Érico Veríssimo inspirou 100 Anos de Solidão de Garcia Marquez, que, por sua vez era referência para Francisco e sua protagonista.

Enquanto as tentativas de contato com Denise e Suzana no Uruguai , não davam certo, deixando em alas a Evelyn, Malu nos contou que não terminou o livro. Destacou, porém a atenção ao tato que Gabriela manifestava constantemente e a linda relação com o avô. Arletinha nos comoveu citando:

"Temporário ou definitiva, toda separação é liberdade.
Se causa dor, medo ou raiva.
Se traz insegurança ou alívio.
Se deixa mágoa ou saudade. Não faz mal.q
Separação é saudável recomeço
Oportunidade de crescimento. Sempre."

Karen adorou o ritmo, frases curtas, leitura dinâmica. Livro que narra, não faz críticas, não julga. Nossa amiga, acostumada a fortes emoções, confessou que deu umas puladinhas, pois o Galileu e o Gabito eram meio monótonos,  e  no final perguntou: -  " Como um homem pode contar tão bem a vida de uma mulher?" Karin achou o livro extremamente poético, e apurou que as descrições não vinham do convívio, mas do DNA do autor. Concluiu com frase emblemática: - "Acho este, o melhor e mais bonito livro que já lemos." Pobre Titina, ficou por última, tendo pouco a dizer... Destacou a visão otimista do mundo que tinha Gabriela e que fez com que, mesmo contando as várias desaventuras, sempre mostrou a alternativa positiva encontrada pela protagonista . Foi Titina quem nos contou que o autor foi criado pela avó, tendo considerado esta solução uma dádiva. Isto faz entender uma série de passagens da obra.

Quase que intuindo que estávamos pra encerrar, Denise e Suzana, auxiliadas por um belo, jovem e simpático uruguaio, conseguem se conectar conosco. Suzana, foi penalizada pelo delay e não conseguimos apurar sua posição. Em compenso, Denise, registrou sua impressão de que o livro conta a vida de uma pessoa marcada pela tragédia, que cresceu com o sofrimento. Sinalizou a escrita especial de Francisco e lembrou: - " nunca falou em celular, TV, rádio, etc


Fomos para a mesa tendo nos servido de strogonoff, pois haviam decisões a serem tomadas. Ficou definido que o livro a ser lido para o próximo encontro é A Paixão Segundo GH de Clarice Lipector. A reunião será na casa da Karen, com direito a amigo secreto como no ano passado. Não posso deixar de registrar minha frustração por não termos conseguido acordar uma data para voltar a Gramado, sem dúvida o voto da Suzana e da Denise teriam feito diferença. Minha recompensa, porém, veio da mesa de sobremesas clássicas, e no café servido nas xícaras de coleção da nossa anfitriã Malu.



Me despeço dizendo que na distância se encontram motivos, enquanto na presença usamos desculpas...

Beijo grande a todas!

Andrea

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Nossa trilha


       Num destes finais de semana, com mais 8 amigas, fui a um sítio em Gramado. Dividimos tarefas, compras, preparamos quitutes, nos acomodamos como deu, e partimos para a incrível experiência de fazer uma trilha juntas! Caminhamos por três horas no meio do mato, costeando um riacho que corria por lajes de pedra maciça, por vezes caía em lindas cachoeiras que viravam espelhos de água límpida. Enfrentamos trechos bem difíceis, escorregadios. As vezes, entre nós e o precipício havia somente um arame farpado. Quem estava na frente gritava: - dificuldade 8!!! E as amigas que vinham atrás ficavam alertas para o perigo. A decisão de fazer esta trilha, nos veio depois que o nosso Clube de Leitura ,  discutiu “Livre”, obra da americana Cheryl Strayed. 



         Sinto que, neste mundo de tempo corrido, estamos procurando espaços para amizade, para relacionamentos, para desabafos, para o descanso. Estamos aprendendo a colocar o mundo em um ritmo mais lento. Tudo isso para que criemos tempo para curtir a vida, os momentos, os amigos... Nada de apertar um botão e curtir. Estamos aprendendo a aproveitar! O Clube de Leitura é pra mim uma nítida expressão deste sentimento. Desde a parada para ler, até o tempo para discutir, a vontade de ouvir e debater, e, desta vez, ir ainda mais longe. Resolvemos por em prática a aventura da autora. Fomos para a trilha.



      Organizamos nossos trabalhos e famílias para que sobrevivessem sem nós, e pegamos a estrada. Parecíamos adolescentes num passeio de colégio. Rimos e choramos neste fim de semana. Cantamos, vimos novela, cuidamos de uma cachorrinha que apareceu por lá. Mas o que mais fizemos foi conversar. Como podem pessoas que se vêem com frequência, que falam por whats app todos os dias, que são amigas no facebook, terem tanto pra conversar? Somos nada sem alguém ao lado. 




         Se, descendo a trilha, não houvesse o aviso das que estavam a frente, muitas teriam sido as quedas... Se para subir não tivéssemos a mão amiga, não teríamos conseguido.   O arame farpado estava ali, mas não poderíamos contar com ele, serviria só para nos machucar ainda mais. As amigas sim, estavam ali para a ajuda, o estímulo ou alerta  era delas na dificuldade, a risada e o relaxamento vinha delas quando a caminhada era plana, larga e fácil.  

Amo voces, amigas!
Até quarta,
Andrea

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Fazer parte do clube de leitura

Boa tarde, Lidia, tudo bem?
Sou historiadora e navegando na internet, localizei o seu blog e fiquei simplesmente encantada com a diversidade dos assuntos abordados. Muito bom mesmo! Sem aquelas demagogias acadêmicas que não permitem ao leitor expressar exatamente seus sentimentos em relação a qualquer obra.
Tomei a liberdade de pegar seu e-mail, uma vez que não consegui enviar o formulário de contato, para saber se existe a possibilidade de aceitar novos membros. Eu gostaria muito de fazer parte desse grupo e compartilhar minhas conclusões.
Obrigada.
Ana.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Reunião de 25/09/2013- LIVRE

       O que acontece quando o que queremos não está a vista? Se queremos encontrar e não achamos, se queremos melhorar e não conseguimos...se, ao procurar por sentimentos, reações, respostas, nos damos conta que estamos atrás de nós mesmos. O que acontece? Cheryl Strayed, resolveu caminhar. E nos contou em Livre, como pode ser árdua esta caminhada. A menina de infância pobre, apegada a mãe, aos irmãos e ao padrasto, casada jovem por amor, se vê, aos 22 anos, sem coisa alguma. Degringola por quatro anos, completamente perdida e sem referências. Comete erros, perde laços, se perde, se droga, se dá e, de repente, resolve partir para a aventura da solidão, para encontrar ninguém mais que ela mesma, livre!


       O Hause Café Bistrô foi a nossa sede e, nesta reunião, além de debater o livro, festejávamos o aniversário da querida Karin. Fui incumbida de escolher o champagne, o vinho branco e o vinho tinto, pois todos os gostos deveriam ser satisfeitos. Sabíamos que a Titina e a Karen não viriam, mas aguardamos por um bom tempo a Arletinha pois ela havia prometido vir afiada para o debate. Infelizmente, nossa companheira não veio, e então começamos a analisar Cheryl.
       A primeira a falar foi a Lise que veio embasada e documentada com uma entrevista da autora para a Revista Viagem na qual ela conta que usou o sexo e as drogas como consolo na convivência com a dor. Aliás, na ausência da Titina para nos dar a biografia, Lisinha foi muito esclarecedora e estava super por dentro da vida pregressa e atual da escritora. Karin se identificou com a questão do cuidado à mãe no hospital, valorizando o fato de Cheryl não ter sido ajudada pelos irmãos num momento em que precisava tanto. Achou a história interessante, porém repetitiva e monótona. Evelyn, nossa sempre eficiente assessora para assuntos cibernético-virtuais, pulou trechos do livro, achou chato, mas valorizou a extrema coragem para enfrentar sozinha a aventura na Pacific Crest Trail. Lídia, não conseguiu enquadrar o gênero do livro e achou obsessiva a relação da protagonista com a mãe. Mas nossa Presidente se impressionou positivamente com o despreendimento da escritora ao enfrentar um processo de mudança e sua honestidade nas reflexões sobre o sexo e as drogas. 
Denise ressaltou o antagonismo da auto-destruição e do instinto de sobrevivência de Cheryl,  notou que no início da obra havia uma idealização das personagens e que, com o passar dos 1770km os defeitos começaram a aparecer. Nossa pequena notável chorou na passagem do lago transparente em que ela via os peixes , mas não conseguia pegar, simbolismo para a vida em que vemos claramente as pessoas, mas não as tornamos nossas, porque viemos ao mundo sós e iremos embora também sozinhos. Chegou a vez da Suzana e ela declarou ter achado o livro fraquinho, disse: - não chegou a ser penoso, mas não gostei, achei bobinho...  A Su gostou mesmo  das trilhas e da sua descrição , mas não viu toda a profundidade  analisada pela Denise. Ah! Segundo a Suzana, o livro deveria se chamar Sorte, pois só com muita , a pessoa passa por todos estes perigos ilesa e invicta!!! Cléo trouxe seu infindável caderno de anotações, e sentenciou a baixa auto-estima da Rainha da PCT, que saiu em peregrinação em busca do seu eu, mas começou muito frágil, com muitos medos. De acordo com a Cleozinha, quando se enfrenta o medo ele fica menor, e ela foi fazendo isto metaforicamente no decorrer do livro. Ainda falando da nossa artista, o momento mais tocante foi quando Cheryl volta ao hospital e encontra a mãe já morta. Vejam só, agora vem a Malu, nossa aventureira,  que comprou o livro no dia anterior,   achou muito fácil de ler, e definiu que, seguramente a autora deve ter usado a narrativa e comentários de um diário, por isso a aparente chatice e repetição. Malu, que nunca perde a oportunidade de dar uma sacada genial, salientou passagens do livro como a "vim para vencer o que fizeram a mim, vim para vencer a mim mesma"disse Cheryl Strayed enquanto buscava seu eixo antes de chegar a Cascade Locks e comer sua casquinha. Agora, nossa autora/personagem sabia que sua vida era como todas as vidas, misteriosa, irrevogável e sagrada.  Tão perto, tão presente, tão dela. E se sentiu livre deixando que seguisse seu rumo.
      Enquanto comíamos nosso  saboroso risoto de camarão e alho poró, propus que fizéssemos uma trilha. Todas se viraram com os olhinhos brilhando. Começamos a planejar, com certa dificuldade de datas, um final de semana para irmos a Gramado fazer a PCT do sítio. São cerca de três horas de caminhada, mas vamos acampar, passar fome, carregar monstras, fazer bolhas nos pés, comer frutas secas e as silvestres que encontrarmos e, fundamentalmente, não vamos tomar banho. Só assim poderemos entender um pouco do sacrifício feito pela autora. Ah! E se alguém quiser algo diferente disso, já pode ir colocando a caixa no correio torcendo pra que chegue com os 20 dólares dentro! 
      Descobrimos que a Malu não estava ainda no grupo do Whatsapp, então, sempre Evy, providenciou sua inserção. O livro decidido para a próxima reunião 23/10, na casa Froeder, foi:
Doce Gabito

        Só nos restava fazer festa pra Karin! Cantamos parabéns, e presenteamos nossa amigona com um KOBO. Para ela que viaja tanto, vai ser muito útil.  Comemos uma deliciosa torta de chocolate branco com frutas vermelhas e já que depois da PCT ficamos com fome... também pastéis de Santa Clara. Acho que por mais que o livro não tenha agradado 100 por cento a todas, ficamos com um sentimento forte de cumplicidade... Cherryl tinha a idade aproximada dos nossos filhos quando perdeu a mãe e sua mãe tinha uma idade parecida com a de algumas de nós. Ela escreveu o livro com a cabeça que talvez tenhamos hoje e mostrou com suas metáforas coisas cotidianas e palpáveis, que nós pensamos saber, mas nas quais seguidamente ainda tropeçamos...
Beijo a todas e até a nossa PCT

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

REUNIÃO DO DIA 28/08/2013 - A MUDANÇA




Todo mundo já ouviu a expressão "fazer do limão, uma limonada", no caso deste livro, do fruto murcho, fizemos uma deliciosa torta de limão!!! Nossa! Que crítica mordaz...O que fazer? A Mudança, do chinês Mo Yan, deixou muito a desejar. Talvez, porque pensássemos ter mas mãos uma pequena pérola do Prêmio Nobel de Literatura. Provavelmente, porque lemos a história quase biográfica, esperando por um final que desse sentido à sucessão de fatos meio sem graça da vida do autor. Certamente, porque depois de Hosseini, Mo nos deixou com a sensação de ter lido uma crônica alongada (definição da Karen), de uma história vista superficialmente, sem posicionamento e cujo fim, não trouxe satisfação ou surpresa.

Mas vamos a nossa deliciosa reunião, a torta! O cenário é a casa da Arletinha. Lindo arranjo floral para receber as amigas do Clube de Leitura Toscana, petiscos de ótimo gosto e bebidas na mesa de centro e convidadas relaxadas, ouvindo da Titina a apresentaçäo o autor. O chinês, cuja trajetória nós conhecemos um pouco através do livro, é representante do Realismo Fantástico, e comparado a Garcia Marques. Segundo nossa Presidente, contou, na vida de seu amigo He Zhiwu, personagem que era o alter ego do autor, a história da China nos últimos 50 anos. O que porém, não acontece é o peso do julgamento, da tomada de posição, tudo é muito sutil. Cléo disse que a obra não lhe acrescentou nada, Lise considerou sem sal, bobo, enquanto Denise - que estava dodói e portanto mais quieta- caracterizou como infantil, a narrativa de Mo Yan.

Diante de tanta insatisfação, surge dentro do grupo uma insurreição, encabeçada pela Evelyn, que lamenta não termos escolhido ler Clarice Lispector. Evy cita vários intelectuais que têem contos da autora na cabeceira e, ao mesmo tempo em que Cléo, Suzana e Titina, se animavam na contestação, nossa Lidinha intervém, lembrando que a escolha de "A Mudança" foi votada e, sendo assim, não era justo o questionamento. A Lispector e sua barata deveriam esperar...Agora era a vez de Mo e seu Gaz 51

Sempre aprimorando a receita da nossa torta, Suzana nos leu uma matéria da ZH com declarações do escritor José Castello, durante a Jornada de Literatura de Passo Fundo. O biógrafo, cronista, crítico e professor ressaltou a particularidade de autores como Guimarães Rosa, Clarice Lispector e José Saramago, que se tornam inconfundíveis por seus estilos totalmente singulares. Mas, segundo Castello, existe uma tendência de internacionalização da literatura brasileira, imposta pelos editores que interpretam a tendência do mercado que deseja um texto médio, leve, rápido, em resumo, mais vendável. Cléo aproveita a deixa e comenta matéria da Veja, onde Lobão declara que o mesmo vem acontecendo com a música .


Arlete levanta e volta a sentar continuamente. Está preocupada com as bebidas, com a mesa, com a cozinha...Porém ainda há tempo para que Titina nos lembre uma frase interessante do livro de Mo Yan, "...mudar de lugar pode ser ruim para as plantas , mas faz bem aos homens "- as mudanças .Ela também recordou a engraçada situação em que a bolinha de ping-pong de Lu Wenli foi parar na boca do professor Liu - as coincidências...Karen achou o máximo que Zhiwu escolheu casar-se com um mulher feia - as estratégias... Lise incomodou-se com a declaração de Lu Wenli : "O homem de mais de cinquenta está no seu auge, mas a mulher...vira uma bruxa velha" - as conclusões.
 O jantar foi servido! E que jantar... Estava maravilhoso! Não tivemos que votar o próximo livro, pois já estava definido "Livre" de Cheryl Strayed. Fizeram muita falta Karin, em New York, e Malu, na Jordânia. A Karinzita, inconsolável por não estar conosco! Passou todo o encontro mandando mensagens pelo whatsapp, no novíssimo grupo criado pela nossa consultora para assuntos cibernéticos, áudio e vídeo, a incansável Evelyn! Eu, como é possível identificar pelas fotos, estava ainda em recuperação do meu processo de aprimoramento visual...por isso peço também desculpas pela demora na postagem da ata, pois pela sensibilidade ocular, tive muita dificuldade em estar na frente do PC por mais de dez minutos. Foi preciso ir fazendo aos poucos...espero ter retratado bem nossos intensos momentos...

Ahhhhhh, falando em intensidade... Como posso definir os debates e assuntos que tivemos na mesa redonda de jantar da Arletinha? Acho que já que falei em torta até agora, o jantar e seu debate "very hot", foram a cerejinha que completou nossa noite. Voltamos pra casa leves, felizes. As mensagens iam e vinham, o sabor do encontro foi prolongado e, tenho certeza, está sendo sentido agora, quando encerro esta ata e me despeço:- até a próxima reunião dia 25 de setembro, na casa da Karin!



Beijo,

Andrea