Por sugestão de uma amiga interessada em reunir o grupo e incentivar a leitura, criamos de forma bastante informal, um CLUBE DE LEITURA que está em plena atividade e já debate (outubro de 2011) seu quarto livro. Nossos encontros são mensais e  recheados de muitas discussões. Como não somos experts, muito menos críticos literários, debatemos os sentimentos que os livros nos proporcionam, o que tem se mostrado muito rico do ponto de vista do crescimento individual e da convivência coletiva fraterna.
         A criação deste Blog é para que registremos a trajetória do Clube. O nome TOSCANA, surge para homenagear  aquela região italiana que, após  uma viagem que fizemos ( entre 11 casais)  para visitá-la, em abril de 2011, ela ficou indelevelmente marcada nos nossos corações. Como a criação do CLUBE DE LEITURA,  decorreu da parceria desenvolvida naquela viagem, a continuidade  do convívio daquele grupo (hoje ampliado), também justifica a homenagem.
         Este  Blog, que é restrito às participantes do CLUBE DE LEITURA TOSCANA, poderá conter  toda espécie de comentários, sugestões e propostas referentes a livros (lidos ou não), filmes, músicas,  peças teatrais e/ou shows , sobre os quais queiramos compartir impressões.
Bem vindas amigas!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Reunião de Maio de 2015 - A Distância Entre Nós




ATA CLUBE DE LEITURA TOSCANA -  22/05/2015

INÍCIO: 19:40hs
LOCAL:  Restaurante House Café Bistrot
ANFITRIÃ:  Cléo  Milani
GRUPO PRESENTE:  Cléo, Denise, Karin, Evelyn, Suzana, Titina,    
                                     Arlete,Malu, Lídia e Lise.
LIVRO DO MÊS:   A  DISTANCIA ENTRE NÓS  - Thrity Umrigar
CONDUÇÃO:  Presidente Lídia Forbrig
REDAÇÃO:   Denise Lopes

Como em um ritual de seita mais que sagrada, a cada última quarta-feira de todo mês, reunimos, com grande  alegria e na maior expectativa, esse grupo tão diverso e rico que se fez e só tem crescido em alma e personalidade – o Grupo de Leitura Toscana.

Como sinal desta vida agitada e diversa, tivemos nossas ausências sentidas pela falta de nossa super redatora, Andrea Taffarel, que, no momento exato desta reunião, se encontrava, em vôo, de retorno da Turquia, onde fora rever seu super marido, que lá se encontra em grandes projetos...
Ausência, não tão justificada, de nossa colega Karen Teixeira, que pela chegada de seus pais a sua casa, achou por bem não se atrasar ao encontro, decidindo não comparecer ...

Na chegada, abraços calorosos e mais que fraternos dávamos umas às outras, numa sinergia contagiante!!!



Local lindamente decorado (devidamente registrado pela fotógrafa oficial Evy),  com motivos indianos ( a história do livro toda se dá na Índia), devido ao   olhar cuidadoso de nossa anfitriã, que não esqueceu de nenhum detalhe, por menor que fosse: velas; tecidos típicos; cardápio mais que especial  elaborado pela Chef Ana Celina;  músicas indianas que deixaram o ambiente harmonioso como um todo e o serviço, que foi primoroso do começo ao fim de nossa reunião.

Parabéns, Cléo Milani, você nos surpreendeu como sempre!!!     











        

Com isto tudo a nos envolver, nossa presidente deu início aos trabalhos.

Como de costume e  responsabilidade, Titina nos forneceu detalhes sobre a autora  - Trity Umrigar,  - nasceu na Índia, em 1961, 54 anos, 21 deles nos EUA, sete livros publicados e 2 best sellers: “A doçura do Mundo” e  “A hora da História”.


 Lídia, então, iniciou a análise do livro dando seu parecer:
-       livro de característica feminista, sob uma ótica de mulher, protagonistas mulheres, fortes e intensas com  exemplos de pessoas marcadas pela estória de suas vidas.  Os homens foram descritos  com papéis secundários, de características  frágeis e inseguras.  Achou a estória triste ao final.  Salientou o desnível social e o preconceito que marcam a leitura.
-       Suas personagens principais, Bhima e Sera, parceiras na lida diária e em suas estórias de vida, mantinham uma hierarquia cultural e social engessada, fazendo o título do livro – A Distância entre Nós, sua caracteristica .  Todos os costumes da cultura indiana foram preciosamente relatados e marcados pela autora, que quase como um poema triste, nos presenteou com sua narrativa.
-       Dois  temas importantes segundo Lídia:  o alcoolismo  e a violência física. De como, mesmo sob o julgo marital e sob forte ameaça física, a mulher/esposa se culpa  por não ter se esforçado mais para a felicidade do marido.
-       Leu trechos lindos que aqui re-escrevo:
- quando da morte do marido Feroz:  ... Estava acabado. Seu casamento estava acabado.  Assim, sem mais nem menos, num piscar de olhos, Feroz tinha ido embora. Feroz, marido e opressor, amante e algoz, vítima e torturador. Nenhum homem a tinha feito mais feliz nem mais infeliz. Nenhum homem a tinha amado assim tão apaixonadamente. Nenhum homem tinha feito mais para afixiar o amor que sentia por ele. Feroz tinha lhe mostrado  a chave da felicidade, mas essa chave abriu também as portas do inferno. Ele era um homem muito ativo, agressivo, brilhante, violento e ciumento, mas era também amoroso, generoso e capaz de despreendimentos.Talvez tenha sido culpa sua nunca ter aprendido a lidar com aquele homem, a conduzir o barco pelas águas revoltas que ele deixava no seu rastro. ... – Feroz, disse, chorando. – Feroz, meu marido. Desculpe-me por tudo. Desculpe-me por ter sido uma esposa tão incompetente. Eu estava tão perdida na minha própria infelicidade que nunca parei para considerar a sua.


Arlete então se pronunciou. Com sua experiência profissional, exercida anos atrás, ao defender, como advogada, mulheres espancadas por seus maridos acrescentou: - mulheres que apanham acreditam nas promessas de seus maridos ao dizerem que irão mudar e que agressões não acontecerão novamente. Precisam acreditar nisso para continuar tocando suas vidas. E que o medo do julgo social, se mantêem neste círculo vicioso do desamor e agressão como um sopro de vida. O medo do abandono permeia em todas as culturas. Todas as mulheres agem por igual nesta hora...

Suzana, que há pouco retornou de uma viagem pela Índia, nos enriqueceu com muitos detalhes daquela cultura. Relatou que é quase inexistente divórcio naquele país. Me fez lembrar o quão díspares eles são: por um lado, altamente espiritualizados e por outro, estatisticamente, são uns dos maiores protagonistas de  estrupros  e agressões físicas contra às mulheres no mundo.

Já nossa anfitriã, Cléo, que com a palavra fez questão de salientar a verdadeira essência do ser humano: os sentimentos e a importância da   existência de cumplicidade entre os casais, mesmo se falando  em culturas tão diversas. Salientou o seguinte parágrafo:

-        ...Sera, caminhando com o marido na beira mar:  ... Foi então que ela viu um casal de mulçumanos vindo em sua direção. O rosto recém-barbeado do homem era jovem e radiante sob a luz da rua. Sera não conseguia ver o rosto da mulher porque ela usava uma burca negra que a cobria dos pés à cabeça, e apenas os olhos eram visíveis por trás da rede. Normalmente esta visão a teria repugnado. Teria tido pensamentos desagradáveis pela rua com essa roupa que mais parecia uma prisão e que ignorava as estatísticas de alta incidência de turbeculose entre as mulheres que mantinham o rosto coberto o dia todo. Mas observou que o dedo indicador da mulher saía do vestido preto e se entrelaçava com o do marido. E caminhavam assim, os dedos se tocando numa conexão emocionante que comprovava o logro do véu e sugeria algo mais profundo e mais eterno do que as convenções humanas.
E Sera:  ... como sua alma se sentia infindável e profunda como o mar batendo ao lado deles; como a visão do casal de mulçumanos a encheu de uma emoção que era de alegria e tristeza em partes iguais; e, acima de tudo, como desejava um casamento que fosse diferente do mar morto de muitos casamentos que via a seu redor, como queria algo melhor, mais profundo, um casamento feito de nuvens e estrelas, de terra vermelha e espuma do mar, de luares, sonatas, livros e galerias de arte, de paixão, bondade, mágoa e êxtase, e de dedos se tocando sob a burca.


 Titina marcou três parágrafos que achou importante ressaltar e que a tocaram muito:
-       ... Como se uma pilha de livros tivesse caído na sua cabeça, Bhima subitamente sentiu o peso dos seus 65 anos. Cada osso de seu corpo cantava os seus males, cada músculo tremia e latejava de dor. Olhou bem nos olhos do rapaz de pele fina e cabelo escuro com uma inveja cheia de amargura. Percebeu suas unhas limpas, sua kurta engomada, o cabelo bem cortado. Notou o brilho da juventude em seu rosto, os dentes brancos e perfeitos, as mãos lisas e sem manchas. Esse rapaz tinha todo o tempo do mundo.

-         ... Sera percebe que ele nunca se afasta muito da mulher; percebe também que, mesmo quando o casal está separado na sala, os dois se olham continuamente. Houve um momento em que Aban mandou um beijo para o marido e, com um rápido movimento da mão, Pervez o apanhou no ar.  ... “Casados há  tantos anos e ainda agindo como namorados.”. Nota em si mesma uma mágoa aguda e repentina que reconhece como inveja. ... Sente falta de nunca ter podido saber o que é um casamento como de Aban e Pervez. Estar casados há anos e continuar mandando beijos um para o outro.

-        ... Bhima tinha a sensação de que, apesar da calma aparente, a filha estava encolhida de medo por dentro. Suspirou pensando consigo mesma que essa era uma maldição especificamnte dos pais: conhecerem bem demais o interior de seus filhos.

Já Malu foi pontual quando narrou suas observações. Disse ser comum e normal darmos às pessoas que morrem, valor e homenagens postumas aumentadas. Citou o exemplo da personagem Sera, que na  morte do marido Feroz (seu algoz em vida), sente que o decepcionou e que, na sua infelicidade diária, não zelou, como esposa, da felicidade do marido, que nós mulheres, possuímos a capacidade e a plasticidade de nos colocarmos no lugar de pessoas próximas, superando nosso sofrimento, tocando a vida para a frente,  sem muito questionar as mazelas  que  a vida nos apresenta pelo caminho. Pelos que ficam...    os homens,  tendem a ações radicais como suicídio,  alcoolismo  e depressão. Que as mulheres não vivem para elas tão somente. Que, no universo feminino,  depois da vinda dos filhos, não somos mais as personagens principais. Que a culpa é nossa companheira de vida e,  como exemplo, citou que Sera fazia o que todos esperavam que fizesse, ao  ser, em vida,  modelo de filha, mãe e esposa.  E assim o sendo, se preocupou com sua sogra tendo sentimentos de dever e culpa até o final.

Suzana, responsável pela indicação e a primeira a terminar de ler, achou o livro super bem escrito e adorou a estória.
Citou o trecho, forte e triste, em que a personagem Bhima descobriu o caso de sua neta com o genro de sua patroa:
-        ... Bhima se sente enraizada naquele lugar, como se fosse uma daquelas esculturas de deuses hindus feitas de areia em Chowpatty às quais os passantes atiravam moedas. Na verdade, estava se sentindo como se fosse de areia e bastasse um balde de água para destruí-la. O mundo ao seu redor também parecia feito de areia, um mundo instável, ambíguo e impermanente.
-       ... Caminham em silêncio total.  Mas este silêncio está gritando, um silêncio estridente e repleto de sons: as batidas do coração de Bhima, o medo dilacerante como uma garra rasgando a garganta de Maya, o rangido que os pés de Bhima fazem ao se enfiarem na areia com raiva. As duas caminham dentro deste silêncio, com medo de tocar os seus limites, porque romper o dique do silêncio significaria liberar a torrente das águas da raiva, da ira e da fúria que se precipitariam, fazendo com que o tsunami do passado recente – o passado que ignoraram, abortaram e mataram – viesse rugindo destruir seu tênue presente.

Suzana esteve recentemente na Índia e nos disse que os casamentos ali, são marcados por classes, apesar de  que oficialmente não existam castas e que é normal a existência e o uso de agendar casamentos através de uma sessão de matrimônios em jornal popular ( trouxe o jornal que foi devidamente registrado em fotografia) e, citou como exemplo, uma nota entre famílias Brâmanes e Parses.  A maior parte dos casamentos hindus é decidida pelos pais dos noivos, que não dispensam o mapa astral para marcar a data.
Uma curiosidade citada por Suzana foi a de que Indus e muçulmanos não se relacionam e quando o fazem, é com sentido de menos valia.
E nos deu uma pequena amostra de aula de história das religiões...


 Nossa querida Karin achou o livro lindo mas com um final injusto. Sentiu até raiva de não ter sido feito justiça com suas personagens...

Lise que se manteve quieta até então (esperava com disciplina a sua vez), nos surpreendeu por demais em atitudes e pareceres.  
Marcou com “M” maísculo , as semelhanças e diferenças  que existem entre patroas e empregadas, tanto naquela cultura como na nossa.
Que somos exemplo vivo disso tudo.  Que a  mesma realidade do livro se escreve nos nossos lares. Deu como exemplo a  sua empregada, que trabalha há  mais de 20 anos com ela, leva, no mínimo, 1 ½  hora da Restinga, local onde mora, para chegar ao seu posto de trabalho, em Porto Alegre.  Que a maneira com que nos distanciamos, informalmente, marca, como no livro, nossas diferenças de classes, por mais que não gostemos de  admitir. Que tanto na vida real,  como no livro,  temos  a SORTE e o DESTINO  a nos guiar já ao nascer !!!
Achou o livro muito realista onde o próprio título “A distância entre nós” resume tudo:   “ A Vida de pobre e a vida de rico”
Diz ser  o melhor livro  que lemos  nos últimos dois anos.


Não bastando esse testemunho todo , “ a Lise enquanto Lise”,  trouxe duas indicações, feitas através de pesquisa e garimpo na Livraria Cultura. Se esmerou e surpreendeu a todas: a primeira,  “ Adeus China”  de  Li Cunxin  e  a segunda, “ A História Secreta”  de Donna Tartt.


Nossa presidente, sempre responsável e atenta, sugeriu 3 títulos: “ Como Envelhecer”,  de Anne Karpf ; “O Seminarista “ de Rubem Fonseca  e  “ Testamento de Maria “ de Colm Tóibín .

Por votação,  ganhou  o livro “Testemunho de Maria”, como leitura para o mês de julho.  



Lise, inconformada, disse não saber vender  e nem fazer marketing com seus livros...  Que com pesar, lerá sozinha os dois...
Nós, por outro lado, achamos tudo muito divertido !

Nosso próximo encontro será em minha casa, no dia 24 de junho, na última quarta-feira do mês, onde, com imensa saudade , nos reuniremos com a mesma alegria que nos mantém  energizadas, pelo período que longe ficamos umas das outras...
Ah, mas não saímos  sem antes receber nossas famosas lembrancinhas, também devidamente registradas em lindas fotografias, para finalizar a noite...

Até o nosso próximo encontro  meninas !!!



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