ATA CLUBE DE LEITURA TOSCANA -
22/05/2015
INÍCIO: 19:40hs
LOCAL: Restaurante
House Café Bistrot
ANFITRIÃ:
Cléo Milani
GRUPO
PRESENTE: Cléo, Denise, Karin, Evelyn, Suzana, Titina,
Arlete,Malu, Lídia e Lise.
LIVRO DO
MÊS: A
DISTANCIA ENTRE NÓS - Thrity Umrigar
CONDUÇÃO: Presidente
Lídia Forbrig
REDAÇÃO: Denise
Lopes
Como em
um ritual de seita mais que sagrada, a cada última quarta-feira de todo mês,
reunimos, com grande alegria e na maior
expectativa, esse grupo tão diverso e rico que se fez e só tem crescido em alma
e personalidade – o Grupo de Leitura
Toscana.
Como
sinal desta vida agitada e diversa, tivemos nossas ausências sentidas pela
falta de nossa super redatora, Andrea Taffarel, que, no momento exato desta
reunião, se encontrava, em vôo, de retorno da Turquia, onde fora rever seu
super marido, que lá se encontra em grandes projetos...
Ausência,
não tão justificada, de nossa colega
Karen Teixeira, que pela chegada de seus pais a sua casa, achou por bem não se
atrasar ao encontro, decidindo não comparecer ...
Na
chegada, abraços calorosos e mais que fraternos dávamos umas às outras, numa
sinergia contagiante!!!
Local lindamente
decorado (devidamente registrado pela fotógrafa oficial Evy), com motivos indianos ( a história do livro
toda se dá na Índia), devido ao olhar cuidadoso de nossa anfitriã, que não
esqueceu de nenhum detalhe, por menor que fosse: velas; tecidos típicos;
cardápio mais que especial elaborado
pela Chef Ana Celina; músicas indianas que
deixaram o ambiente harmonioso como um todo e o serviço, que foi primoroso do
começo ao fim de nossa reunião.
Parabéns,
Cléo Milani, você nos surpreendeu como sempre!!!
Com isto tudo a nos envolver, nossa presidente deu início aos trabalhos.
Como de costume
e responsabilidade, Titina nos forneceu detalhes
sobre a autora - Trity Umrigar, - nasceu na Índia, em 1961, 54 anos, 21 deles
nos EUA, sete livros publicados e 2 best sellers: “A doçura do Mundo” e “A hora da História”.
- livro de característica feminista, sob uma ótica de mulher, protagonistas
mulheres, fortes e intensas com exemplos
de pessoas marcadas pela estória de suas vidas.
Os homens foram descritos com
papéis secundários, de características
frágeis e inseguras. Achou a
estória triste ao final. Salientou o
desnível social e o preconceito que marcam a leitura.
- Suas personagens principais, Bhima e Sera, parceiras na lida diária
e em suas estórias de vida, mantinham uma hierarquia cultural e social engessada,
fazendo o título do livro – A Distância entre Nós, sua caracteristica . Todos os costumes da cultura indiana foram
preciosamente relatados e marcados pela autora, que quase como um poema triste,
nos presenteou com sua narrativa.
- Dois temas importantes
segundo Lídia: o alcoolismo e a violência física. De como, mesmo sob o
julgo marital e sob forte ameaça física, a mulher/esposa se culpa por não ter se esforçado mais para a
felicidade do marido.
- Leu trechos lindos que aqui re-escrevo:
- quando da morte do marido Feroz: ...
Estava acabado. Seu casamento estava acabado.
Assim, sem mais nem menos, num piscar de olhos, Feroz tinha ido embora.
Feroz, marido e opressor, amante e algoz, vítima e torturador. Nenhum homem a
tinha feito mais feliz nem mais infeliz. Nenhum homem a tinha amado assim tão
apaixonadamente. Nenhum homem tinha feito mais para afixiar o amor que sentia
por ele. Feroz tinha lhe mostrado a
chave da felicidade, mas essa chave abriu também as portas do inferno. Ele era
um homem muito ativo, agressivo, brilhante, violento e ciumento, mas era também
amoroso, generoso e capaz de despreendimentos.Talvez tenha sido culpa sua nunca
ter aprendido a lidar com aquele homem, a conduzir o barco pelas águas revoltas
que ele deixava no seu rastro. ... – Feroz, disse, chorando. – Feroz, meu
marido. Desculpe-me por tudo. Desculpe-me por ter sido uma esposa tão
incompetente. Eu estava tão perdida na minha própria infelicidade que nunca
parei para considerar a sua.
Arlete
então se pronunciou. Com sua experiência profissional, exercida anos atrás, ao
defender, como advogada, mulheres espancadas por seus maridos acrescentou: - mulheres
que apanham acreditam nas promessas de seus maridos ao dizerem que irão mudar e
que agressões não acontecerão novamente. Precisam acreditar nisso para
continuar tocando suas vidas. E que o medo do julgo social, se mantêem neste
círculo vicioso do desamor e agressão como um sopro de vida. O medo do abandono
permeia em todas as culturas. Todas as mulheres agem por igual nesta hora...
Suzana,
que há pouco retornou de uma viagem pela Índia, nos enriqueceu com muitos
detalhes daquela cultura. Relatou que é quase inexistente divórcio naquele
país. Me fez lembrar o quão díspares eles são: por um lado, altamente
espiritualizados e por outro, estatisticamente, são uns dos maiores
protagonistas de estrupros e agressões físicas contra às mulheres no
mundo.
Já nossa
anfitriã, Cléo, que com a palavra fez questão de salientar a verdadeira essência do ser humano: os sentimentos e a
importância da existência de cumplicidade entre os casais, mesmo se falando em culturas tão diversas. Salientou o
seguinte parágrafo:
-
...Sera, caminhando com o
marido na beira mar: ... Foi então que ela viu um
casal de mulçumanos vindo em sua direção. O rosto recém-barbeado do homem era
jovem e radiante sob a luz da rua. Sera não conseguia ver o rosto da mulher
porque ela usava uma burca negra que a cobria dos pés à cabeça, e apenas os
olhos eram visíveis por trás da rede. Normalmente esta visão a teria repugnado.
Teria tido pensamentos desagradáveis pela rua com essa roupa que mais parecia
uma prisão e que ignorava as estatísticas de alta incidência de turbeculose
entre as mulheres que mantinham o rosto coberto o dia todo. Mas observou que o
dedo indicador da mulher saía do vestido preto e se entrelaçava com o do
marido. E caminhavam assim, os dedos se tocando numa conexão emocionante que
comprovava o logro do véu e sugeria algo mais profundo e mais eterno do que as
convenções humanas.
E Sera: ... como sua alma se sentia infindável e
profunda como o mar batendo ao lado deles; como a visão do casal de mulçumanos
a encheu de uma emoção que era de alegria e tristeza em partes iguais; e, acima
de tudo, como desejava um casamento que fosse diferente do mar morto de muitos
casamentos que via a seu redor, como queria algo melhor, mais profundo, um
casamento feito de nuvens e estrelas, de terra vermelha e espuma do mar, de
luares, sonatas, livros e galerias de arte, de paixão, bondade, mágoa e êxtase,
e de dedos se tocando sob a burca.
Titina
marcou três parágrafos que achou importante ressaltar e que a tocaram muito:
- ... Como se uma pilha de livros tivesse caído na sua cabeça, Bhima
subitamente sentiu o peso dos seus 65 anos. Cada osso de seu corpo cantava os
seus males, cada músculo tremia e latejava de dor. Olhou bem nos olhos do rapaz
de pele fina e cabelo escuro com uma inveja cheia de amargura. Percebeu suas
unhas limpas, sua kurta engomada, o cabelo bem cortado. Notou o brilho da
juventude em seu rosto, os dentes brancos e perfeitos, as mãos lisas e sem
manchas. Esse rapaz tinha todo o tempo do mundo.
-
... Sera percebe que ele nunca se afasta muito da mulher; percebe
também que, mesmo quando o casal está separado na sala, os dois se olham
continuamente. Houve um momento em que Aban mandou um beijo para o marido e,
com um rápido movimento da mão, Pervez o apanhou no ar. ... “Casados há tantos anos e ainda agindo como namorados.”.
Nota em si mesma uma mágoa aguda e repentina que reconhece como inveja. ...
Sente falta de nunca ter podido saber o que é um casamento como de Aban e
Pervez. Estar casados há anos e continuar mandando beijos um para o outro.
-
... Bhima tinha a sensação de que, apesar da calma aparente, a
filha estava encolhida de medo por dentro. Suspirou pensando consigo mesma que
essa era uma maldição especificamnte dos pais: conhecerem bem demais o interior
de seus filhos.
Já Malu
foi pontual quando narrou suas observações. Disse ser comum e normal darmos às
pessoas que morrem, valor e homenagens postumas aumentadas. Citou o exemplo da
personagem Sera, que na morte do marido
Feroz (seu algoz em vida), sente que o decepcionou e que, na sua infelicidade
diária, não zelou, como esposa, da felicidade do marido, que nós
mulheres, possuímos a capacidade e a plasticidade de nos colocarmos no lugar de
pessoas próximas, superando nosso sofrimento, tocando a vida para a
frente, sem muito questionar as
mazelas que a vida nos apresenta pelo caminho. Pelos que
ficam... Já os homens,
tendem a ações radicais como suicídio,
alcoolismo e depressão. Que as mulheres
não vivem para elas tão somente. Que, no universo feminino, depois da vinda dos filhos, não somos mais as
personagens principais. Que a culpa é nossa companheira de vida e, como exemplo, citou que Sera fazia o que
todos esperavam que fizesse, ao ser, em
vida, modelo de filha, mãe e
esposa. E assim o sendo, se preocupou
com sua sogra tendo sentimentos de dever e culpa até o final.
Suzana,
responsável pela indicação e a primeira a terminar de ler, achou o livro super
bem escrito e adorou a estória.
Citou o
trecho, forte e triste, em que a personagem Bhima descobriu o caso de sua neta
com o genro de sua patroa:
-
... Bhima se sente enraizada naquele lugar, como se fosse uma
daquelas esculturas de deuses hindus feitas de areia em Chowpatty às quais os
passantes atiravam moedas. Na verdade, estava se sentindo como se fosse de
areia e bastasse um balde de água para destruí-la. O mundo ao seu redor também
parecia feito de areia, um mundo instável, ambíguo e impermanente.
- ... Caminham em silêncio
total. Mas este silêncio está gritando,
um silêncio estridente e repleto de sons: as batidas do coração de Bhima, o
medo dilacerante como uma garra rasgando a garganta de Maya, o rangido que os
pés de Bhima fazem ao se enfiarem na areia com raiva. As duas caminham dentro
deste silêncio, com medo de tocar os seus limites, porque romper o dique do
silêncio significaria liberar a torrente das águas da raiva, da ira e da fúria
que se precipitariam, fazendo com que o tsunami do passado recente – o passado
que ignoraram, abortaram e mataram – viesse rugindo destruir seu tênue
presente.
Suzana
esteve recentemente na Índia e nos disse que os casamentos ali, são marcados
por classes, apesar de que oficialmente
não existam castas e que é normal a existência e o uso de agendar casamentos
através de uma sessão de matrimônios em jornal popular ( trouxe o jornal que
foi devidamente registrado em fotografia) e, citou como exemplo, uma nota entre
famílias Brâmanes e Parses. A maior parte dos casamentos hindus é
decidida pelos pais dos noivos, que não dispensam o mapa astral para marcar a
data.
Uma
curiosidade citada por Suzana foi a de que Indus e muçulmanos não se relacionam
e quando o fazem, é com sentido de menos valia.
E nos
deu uma pequena amostra de aula de história das religiões...
Lise que
se manteve quieta até então (esperava com disciplina a sua vez), nos
surpreendeu por demais em atitudes e pareceres.
Marcou com
“M” maísculo , as semelhanças e diferenças
que existem entre patroas e empregadas, tanto naquela cultura como na
nossa.
Que
somos exemplo vivo disso tudo. Que a mesma realidade do livro se escreve nos nossos
lares. Deu como exemplo a sua empregada,
que trabalha há mais de 20 anos com ela,
leva, no mínimo, 1 ½ hora da Restinga, local
onde mora, para chegar ao seu posto de trabalho, em Porto Alegre. Que a maneira com que nos distanciamos, informalmente,
marca, como no livro, nossas diferenças de classes, por mais que não gostemos
de admitir. Que tanto na vida real, como no livro,
temos a SORTE e o DESTINO a nos
guiar já ao nascer !!!
Achou o
livro muito realista onde o próprio título “A
distância entre nós” resume tudo: “
A Vida de pobre e a vida de rico”
Diz ser o melhor livro
que lemos nos últimos dois anos.
Não
bastando esse testemunho todo , “ a Lise enquanto Lise”, trouxe duas indicações, feitas através de
pesquisa e garimpo na Livraria Cultura. Se esmerou e surpreendeu a todas: a
primeira, “ Adeus China” de Li
Cunxin e
a segunda, “ A História Secreta”
de Donna Tartt.
Nossa
presidente, sempre responsável e atenta, sugeriu 3 títulos: “ Como Envelhecer”, de Anne Karpf ; “O Seminarista “ de Rubem
Fonseca e “ Testamento de Maria “ de Colm Tóibín .
Por
votação, ganhou o livro “Testemunho de Maria”, como leitura
para o mês de julho.
Lise, inconformada,
disse não saber vender e nem fazer
marketing com seus livros... Que com
pesar, lerá sozinha os dois...
Nós, por
outro lado, achamos tudo muito divertido !
Nosso
próximo encontro será em minha casa, no dia 24 de junho, na última quarta-feira
do mês, onde, com imensa saudade , nos reuniremos com a mesma alegria que nos
mantém energizadas, pelo período que
longe ficamos umas das outras...
Ah, mas
não saímos sem antes receber nossas
famosas lembrancinhas, também devidamente registradas em lindas fotografias,
para finalizar a noite...
Até o
nosso próximo encontro meninas !!!
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